Escrito por Sergio Gonçalves e Patrícia Vicente Rua
LISBOA (Reuters) – O governo minoritário de centro-direita de Portugal aprovou nesta quinta-feira um conjunto de medidas anticorrupção mais duras, incluindo permitir que os tribunais confisquem os bens de suspeitos sem condenação criminal.
Antigos primeiros-ministros, políticos, banqueiros, executivos de empresas e juízes portugueses foram implicados em várias investigações de corrupção de alto nível nos últimos anos. O partido de extrema-direita Chega beneficiou de tais investigações.
“(Haverá) uma luta incansável contra a corrupção em Portugal”, disse o primeiro-ministro montenegrino, Luis Montenegro, numa conferência de imprensa.
A legislação portuguesa já permite o confisco de bens por crimes de corrupção, crimes económicos e financeiros e terrorismo, mas é necessária uma condenação criminal.
As novas regras permitirão que os tribunais procedam ao confisco se estiverem “satisfeitos” de que os bens dos suspeitos estão ligados à corrupção. A Ministra da Justiça, Rita Giudice, disse que seria possível fazê-lo sem um veredicto de culpa.
“(A sociedade) deve perceber que a corrupção não vale a pena”, acrescentou Giudice.
Estas regras devem ser aprovadas pelo Parlamento, mas Giudice disse que o governo, que venceu por pouco as eleições gerais em Março, consultou os partidos da oposição e várias entidades do sistema judicial.
Mas alguns já apontaram o dedo para a ação. Mariana Leitão, do Partido da Iniciativa Liberal, disse que isto prejudicaria o princípio jurídico da presunção de inocência, bem como o direito à propriedade privada.
“Nunca apoiaremos isso”, disse Leitão.
Portugal ficou em 34º lugar entre 180 países no último Índice de Percepção de Corrupção emitido pela Transparência Internacional. A sondagem Eurobarómetro de 2023 mostrou que 93% dos portugueses acreditam que a corrupção é generalizada.
A agência anticorrupção do Conselho da Europa, GRECO, afirmou em janeiro que Portugal permanecia numa posição “globalmente insatisfatória” em termos de cumprimento das suas recomendações.
As medidas também incluem regular a pressão e limitar os recursos que podem ser interpostos para evitar que os casos se arrastem por anos nos tribunais sem uma decisão final. O governo também planeja aumentar a proteção aos denunciantes.
O caso mais recente e de grande repercussão envolve o antigo primeiro-ministro socialista António Costa, que se demitiu em Novembro passado devido a uma investigação de corrupção sobre alegadas irregularidades na gestão de vários grandes investimentos pelo seu governo.
Costa negou qualquer irregularidade e nunca foi acusado, e o Tribunal da Relação de Lisboa e o Provedor de Justiça de Portugal afirmaram que a investigação se baseou em especulação e não em provas.
(Reportagem de Sergio Gonçalves e Patricia Vicente Roa; edição de Catarina Demoni e David Gregorio)
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