Análise – As esperanças de reanimar o mercado de IPO no Brasil evaporaram. Escrito por: Reuters.

Escrito por Luciana Magalhães

SÃO PAULO (Reuters) – As preocupações com a saúde financeira do Brasil e o aumento das taxas de juros ajudaram a diminuir as esperanças de que até 20 de suas empresas pudessem abrir o capital este ano, encerrando uma seca de dois anos no outrora próspero mercado de IPOs do país.

Empresas numa vasta gama de sectores, incluindo construção, retalho e infra-estruturas, estão cada vez mais a aceitar a possibilidade de que outra janela para ofertas públicas iniciais não se abra até ao próximo ano ou talvez mesmo depois das eleições presidenciais do Brasil no final de 2026.

“Não há clima adequado para um IPO no Brasil neste momento”, disse Mateus Kuhn, diretor financeiro da Calas Incorporacos y Constructorcos, que durante anos teve planos intermitentes de vender suas ações por meio de um IPO.

A construtora com sede em São Paulo adiou novamente a venda de suas ações, talvez até 2025 ou mais tarde, disse Kuhn à Reuters.

Callas e outras empresas que adiaram os seus planos de abertura de capital culpam as preocupações financeiras persistentes no Brasil, as altas taxas de juros no país, que empurraram os investidores das ações para a renda fixa, e os temores de uma recessão nos Estados Unidos.

O Brasil, sede da maior economia da América Latina, não vê um IPO há quase três anos. A produtora de fertilizantes Vitia foi a mais recente empresa a fazê-lo, estreando na bolsa B3 em setembro de 2021. Três meses depois, o banco digital Nubank foi listado na Bolsa de Valores de Nova York ao mesmo tempo em que lançava certificados de depósito brasileiros (BDRs) no mercado local.

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O Nubank levantou US$ 2,6 bilhões em sua oferta pública inicial, tornando-se instantaneamente o maior banco da América Latina em capitalização de mercado.

O entusiasmo por um IPO em 2022 atingiu um limite depois que o aumento da inflação levou o banco central do Brasil a aumentar as taxas de juros mais rapidamente do que muitas outras economias ocidentais, provocando arrepios nos mercados de ações locais.

As esperanças de uma nova rodada de IPOs aumentaram no ano passado e no início de 2024, em conjunto com uma flexibilização da política monetária, mas foram frustradas nos últimos meses, quando o banco central do Brasil interrompeu os cortes nas taxas de juros em meio a preocupações crescentes sobre a saúde financeira do Brasil, bem como o potencial retorno da inflação.

Em Julho, o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ampliou a sua previsão de défice primário para este ano, provocando um congelamento de gastos para cumprir a meta fiscal. A medida levantou preocupações dos investidores de que o governo de esquerda não cumpriria a sua promessa de manter a disciplina fiscal.

O fracasso da Reserva Federal dos EUA até agora em reduzir as taxas de juro em 2024, apesar das expectativas no início do ano de um corte significativo nos custos dos empréstimos, fortaleceu ainda mais o dólar e escureceu as ações brasileiras.

“Estávamos preparados, apenas aguardando sinais do lado financeiro no Brasil e do lado monetário nos Estados Unidos”, disse Andre Avelar, diretor financeiro da Emcamp, outra construtora que também deve abandonar os planos de IPO em 2024 .

“período seco”

As empresas de construção têm estado entre os principais candidatos a IPO, dada a natureza intensiva de capital dos seus negócios.

O CEO da Solamerica Investments, Marcelo Melo, disse à Reuters que a gestora de ativos esperava inicialmente que o Brasil saísse da seca de IPOs a partir do segundo trimestre de 2024, com cerca de 20 ofertas iniciais de ações este ano. A empresa agora espera que nenhum desses negócios ocorra antes de 2025.

Daniel Weinstein, sócio-gerente da consultoria financeira Seneca Evercore em São Paulo, disse que não ficaria surpreso se o Brasil não visse outro IPO até depois da próxima eleição presidencial, marcada para outubro de 2026.

Dados levantados pela empresa mostram que 81 empresas realizaram ofertas públicas iniciais no Brasil desde 2018, a maioria delas em 2020 e 2021. Destas, 74 ainda estão cotadas, sendo que os setores de tecnologia, retalho e imobiliário representam pouco mais de 50% das novas empresas ainda em atividade.

Recentemente, mesmo no meio de uma recuperação nos IPOs nos Estados Unidos e na Europa, o Brasil e vários países da região Ásia-Pacífico ficaram para trás nesta área, levando os candidatos nacionais a IPOs a procurar outras opções, incluindo emissão de dívida ou negócios de capital privado. de acordo com Weinstein.

É o caso da Egua Saniamento, uma empresa de saneamento com sede em São Paulo, que no ano passado emitiu títulos no valor de 3,8 mil milhões de reais (696 milhões de dólares) para financiar os seus investimentos.

O CEO da Egua, Roberto Barbotti, disse que a empresa vinha considerando uma oferta pública inicial há algum tempo, mas o clima incerto ainda tornava improvável uma oferta inicial de ações este ano.

“Não vimos um período tão seco nos IPOs desde que o mercado se tornou mais importante no início dos anos 2000”, disse ele à Reuters, referindo-se a um período em que a Bolsa de Valores brasileira procurou aumentar a confiança dos investidores através da criação de listagens distintas de empresas com boa governança. práticas Empresas que excedem as normalmente exigidas.

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Embora o mercado de dívida continue a ser uma opção para muitas empresas locais, os executivos afirmam que a cotação de acções na bolsa de valores proporciona muito mais do que capital.

“A listagem de ações é estratégica para nós”, disse Victor Basan de Almeida, CEO da Pacaembu, outra construtora com sede em São Paulo, explicando que as empresas listadas tendem a ter maior visibilidade e são capazes de atrair e reter profissionais bem qualificados.

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