Credores lutam para confiscar terras no Brasil à medida que aumentam as falências – BNN Bloomberg

(Bloomberg) — Uma decisão judicial na cidade de Sinop, na floresta amazônica, protegendo as terras de um produtor de milho e soja da apreensão por credores, está ecoando na Avenida Faria Lima, o equivalente brasileiro de Wall Street.

A decisão está a suscitar preocupações entre os credores de que o controlo da área prometida como garantia para certificados de recebíveis do agronegócio, uma classe relativamente nova de títulos de rendimento fixo utilizados para financiar agricultores de cereais e oleaginosas, pode ser mais difícil do que o esperado. Com as elevadas taxas de incumprimento dos empréstimos agrícolas no Brasil devido às colheitas abundantes e aos baixos preços das colheitas, os credores enfrentam a perspectiva de batalhas legais dispendiosas e prolongadas para controlar as garantias.

O impacto pode ser significativo. Em 31 de julho, os investidores brasileiros detinham cerca de 145 bilhões de reais (US$ 24 bilhões) em títulos de crédito, segundo o provedor de dados Ukbar. As obrigações oferecem frequentemente aos agricultores melhores condições do que os empréstimos bancários tradicionais, enquanto os investidores individuais aguardam com expectativa o seu estatuto de isenção fiscal. As notas de crédito são geralmente garantidas por imóveis e outros ativos numa estrutura que permite aos credores reter a propriedade da garantia até que a dívida seja paga integralmente.

Mas esta suposição foi invertida quando um tribunal em Sinope rejeitou as exigências dos credores para que a empresa agrícola de milho e soja Agropecuaria Tres Irmãos Bergamasco Ltd. desistisse de bens imóveis que tinha penhorado como garantia de 36 milhões de reais brasileiros em pedidos de refinanciamento. A empresa argumentou com sucesso que a terra era essencial para os seus esforços de recuperação e, portanto, deveria ser protegida contra apreensão durante a duração da protecção contra falência.

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O período inicial de proteção contra falência de 180 dias expirou, levando os credores, incluindo fundos administrados pela Galapagos Capital e SFI Investments, a colocar o terreno em leilão. Mas Tres Irmaeus ainda tem a opção de solicitar ao tribunal mais seis meses de proteção, o que poderia impedir qualquer venda.

Outras empresas agrícolas com dificuldades financeiras, incluindo a North Agro Agricultural Ltd., estão a seguir a mesma estratégia. Nem Tres Airmouse nem North Agro responderam aos pedidos de comentários.

“Se os credores levarem mais tempo do que o esperado para confiscar terras e se houver maiores custos legais com os quais terão de lidar, eles incluirão esses custos adicionais”, disse Alfredo Marucho, chefe de pesquisa da Okbar, uma consultoria especializada em dados de conversão de títulos. No preço do crédito, procurarão também no futuro utilizar outros tipos de garantias mais acessíveis.”

Mais de 100 produtores rurais individuais buscaram recuperação judicial durante o primeiro trimestre, mais que o dobro dos últimos três meses de 2023 e um aumento de seis vezes em relação ao ano anterior, segundo a Serasa Experian.

Mais restrições estão a caminho, à medida que “fatores climáticos” e fortes colheitas na Argentina e nos Estados Unidos pressionam os agricultores brasileiros, disse Allison Souza, advogada e especialista em reestruturação da ERS Consultia & Advocacy.

Estas falhas prejudicaram gravemente os investidores do CRA. As ações da Galápagos Recebiveis do Agronegocio e da SFI Investimentos do Agronegocio caíram 35% e 69%, respectivamente, no ano passado, segundo dados compilados pela Bloomberg. Galápagos se recusou a comentar esta história. SFI não respondeu imediatamente a uma pergunta.

Antes do surgimento das agências de crédito agrícola no final da década passada, o setor agrícola brasileiro tradicionalmente contraía empréstimos junto aos bancos, que estavam mais acostumados a renegociar empréstimos e estender prazos. Os agricultores também obtiveram financiamento de comerciantes e empresas de insumos agrícolas através de transações de permuta. Estes banqueiros, comerciantes e empresas de sementes raramente apreenderam as garantias.

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Mas como as regras contabilísticas exigem que as notas de crédito sejam avaliadas diariamente ao mercado, qualquer incumprimento poderá resultar em perdas imediatas de papel, provocando pânico entre os detentores de fundos negociados publicamente.

“Eventos como este são importantes para o amadurecimento e adaptação do mercado”, disse Daniela Gamboa, chefe de crédito da Sol America Investments, braço de gestão de uma das maiores seguradoras do Brasil. O mercado de CRA ainda tem espaço para crescer “já que a indústria é extremamente importante para a economia”.

–Com assistência de Clarice Couto.

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