Jubileu de Ouro das Relações Diplomáticas entre Brasil e China – Opinião

Wang Xiaoying/China Daily

O primeiro projeto sino-brasileiro remonta a 1812, quando o então imperador brasileiro trouxe trabalhadores chineses para desenvolver uma plantação de chá perto do Rio de Janeiro, então capital do país. Em 1900, uma nova leva de imigrantes chineses chegou a São Paulo. As relações econômicas entre Brasil e China eram intermitentes naquela época e assim permaneceram até 1949.

As relações diplomáticas entre a República Federativa do Brasil e a República Popular da China foram estabelecidas em 1974. Este ano marca, portanto, o 50º aniversário do estabelecimento de relações diplomáticas oficiais entre a China e o Brasil. Embora este aniversário seja importante, esconde o facto de o Brasil não ter tido relações diplomáticas com a China durante pelo menos 25 anos antes de 1974 devido a preconceitos ideológicos. A abordagem pragmática adoptada pelas duas partes levou ao reatamento das relações diplomáticas formais, na sequência do degelo nas relações sino-americanas.

Ao longo das cinco décadas desde o estabelecimento de relações diplomáticas formais, o comércio e o investimento entre as duas partes superaram todas as expectativas. O fato mais conhecido e frequentemente mencionado é que a China é o maior parceiro comercial do Brasil há 15 anos consecutivos, tanto como destino dos produtos brasileiros quanto como fonte de importações brasileiras. A China contribuiu durante vários anos para o superávit comercial do Brasil.

Com terras aráveis ​​limitadas e fontes de água insuficientes, juntamente com a rápida urbanização e o aumento dos salários, a China pode tornar-se cada vez mais dependente da importação de alimentos e matérias-primas, apesar da sua capacidade de garantir a sua segurança alimentar. A China também necessitará de matérias-primas, e de metais em particular, para alimentar o crescimento do PIB, mesmo a um ritmo mais lento do que antes. Esta é uma boa notícia para os exportadores brasileiros.

Mas a crescente preocupação entre os brasileiros sobre a potencial “dependência excessiva” do seu país em relação à China levou as autoridades brasileiras a diversificar a estrutura das exportações. Mas a importância das relações económicas sino-brasileiras vai além do comércio de mercadorias. As entidades chinesas investiram mais de 70 mil milhões de dólares no Brasil, sendo que cerca de três quartos deste montante foram para o setor energético. Recentemente, os fabricantes de automóveis chineses também se tornaram ativos como investidores no Brasil.

Outra dimensão importante das relações econômicas sino-brasileiras é a parceria tecnológica. Entre outras coisas, o Brasil e a China construíram em conjunto uma série de satélites, uma importante ferramenta para fornecer informações meteorológicas.

Além disso, a China forneceu uma quantidade significativa de recursos ao Brasil através de empréstimos. Por exemplo, durante a recente visita do vice-presidente brasileiro Geraldo Alkemin à China para participar da reunião do Comitê de Alto Nível para Consulta e Cooperação China-Brasil, a China prometeu fornecer ao Brasil um empréstimo de US$ 1,3 bilhão do Banco de Desenvolvimento da China para o Banco Nacional de Desenvolvimento do Brasil e Banco do Brasil, e um empréstimo de US$ 500 milhões do Banco de Exportação e Importação da China ao Banco do Brasil. Durante a visita, os dois lados também concordaram em reviver o Fundo China-Brasil, que foi criado em 2015, mas ainda não começou a funcionar.

O Décimo Quarto Plano Quinquenal da China (2021-2025) confirma que os esforços para alcançar uma série de objectivos podem contribuir para reforçar a cooperação entre as duas partes em sectores como os cuidados de saúde e a biotecnologia – estes dois sectores têm um elevado potencial de desenvolvimento e crescimento.

Por sua vez, o Brasil demonstrou interesse renovado em superar as limitações de infraestrutura em suas fronteiras e obter acesso à costa do Pacífico da América do Sul. Espera-se que os investidores chineses contribuam significativamente para estes projectos, através do lançamento de projectos bons e tecnicamente sólidos.

Mas isso não significa que as relações sino-brasileiras sejam isentas de desafios. Entre os desafios que os dois lados devem superar estão o uso estratégico de medidas não tarifárias pelos dois países, as discrepâncias entre os níveis tarifários na China e no Brasil – o que está prejudicando as exportações brasileiras – a resistência do Brasil em aderir formalmente à Iniciativa do Cinturão e Rota, e disputas comerciais entre a China e as principais economias ocidentais que afetam a produtividade brasileira, entre outras coisas.

Dado que os dois países são membros fundadores dos BRICS, podem contar com um mecanismo diferente da COSSPAN e dos fóruns internacionais para alcançar objectivos comuns. Na verdade, os BRICS são cada vez mais vistos como uma plataforma multilateral capaz de ajudar a melhorar a governação global.

No mundo actual em rápida mudança, onde a arquitectura institucional global enfrenta desafios de diferentes ângulos, há uma necessidade urgente de definir objectivos claros para o desenvolvimento e a parceria. Isto não significa que os países devam optar por retirar-se das parcerias que têm com outros países para se associarem a outro país. Mas deve ser desenvolvida uma nova via de equilíbrio, que acomode novos factores críticos e novos intervenientes. Esperamos que o aprofundamento das relações económicas e comerciais entre o Brasil e a China ajude o governo brasileiro a integrar melhor a economia do país com a economia global.

O autor é coordenador de relações econômicas externas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada do Brasil. As opiniões expressas neste artigo não refletem necessariamente as opiniões do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada ou do China Daily.

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